quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Rabiscos

Peço apenas um favor: deixe o poeta dormir
arrancou sem consentimento a paz que a mim pertencia
as penas de pavão se tornaram tijolos
sem descanso por dias, sinta-se culpada
busco formas de a transformar em poesia
as pernas virarem versos
o riso fazer rima com alguma palavra
que nem devo saber o significado 
em mim, a missão de a desenhar em estrofes
a pressão que traz é estranhamente gostosa
na verdade é muito mais 
diria questão de princípios
se um bem desse não trouxer inspiração
desisto do que supostamente faço 
voltando a ela
soberana
domina sem eu mesmo perceber
sai a fazer rabiscos que mal posso controlar
será eterna em meus contos
em tudo que possa inventar
com a maior licença poética
clamo por outro favor:
arranque minha roupa 
não meu sono.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Obrigação desistência

Cabendo sempre o suficiente,
Mais do sempre fim ou meio final,
Do mesmo filme a cena fria ou sem sal,
Vista do olhar mais crítico e eficiente.

Você, teu dom, teus peitos.
Casualmente encantado o mundo fica contigo!
Adoro quando ficamos.
Juntos e distraídos.

Embasada em se detalhar todo o tempo e bem precisa,
Precisando sempre de mim pra que lhe diga:
Tá linda!
Ou qualquer coisa elogiando,
Dizendo sempre o bom e velho:
Vamos amiga!

Fico tonto e fraco,
Não sei mais o que faço com toda essa fadiga.
Dê-me um abraço.
Nele eu desfaço sempre.
Desfaleço, uns risos contentes e uma boa dica:
Nunca deixe de me abraçar.

A minha carência é mais amiga tua do que minha.
Entenda se quiser, vou te dar o mesmo velho bom dia.
Se não quiser entender,
Tudo bem.

Falta só um fio de incoerência,
Para que a gente cuide do amor e da nossa indecência,
Longe de ser eminência, desviando toda e qualquer exigência,
Que limite, desgaste, deslize ou disfarce o que é te amar.

domingo, 9 de outubro de 2016

Segundos

Foi como se estivéssemos a sós
largado em um vácuo enorme
entre eu, ela e nós

Os lábios dançavam num ritmo perfeito
saíam sons açucarados daquela divindade
ignorantes simplificam e batizam de boca
uma voz que soa massageando o ego
como se me encurralassem num beco estreito
sem saída

Meus olhos a secavam
a mente sofria com distúrbios literários
sintomas de um nobre psicopata 
em minha reta, a maior vítima

Estado de transe
não tinha duvidas 

Quando a fala silenciou
houve um choque e, no fundo, ouviu-se serenamente
um leve estalo de dedos
o mundo girou novamente

As vozes ao redor saíram do baú
a música qual imaginava cessou
o olhar, até então irredutível, piscou
ali vi que o mundo no qual acordei
não era tão meu.