Calou-se a incerteza

a cada gesto do seu jeito

perco um beijo roubado teu

a cada verso que escrevo

me sinto longe do abraço seu

por dias passei vazio

por noites passei sorrindo

momentos sãs vivi ouvindo

teu doce timbre a me atarantar

te conquistei com um beijo bom

daquelas cenas de cinema

com umas caixas de bombons

sem motivos pra dilema

mas você disse que já tinha

me visto por aí nas alamedas

foi tão lindo quanto eu sonhei

mais por perfeito o quanto eu queria

Uma noite qualquer

Barulho do relógio é o tempo passando
e nós sentados na praça cantarolando
mendigo assobia a nossa melodia
a lua nos faz companhia

Noite perfeita, tem orvalho na mata seca
estrelas e nuvens entram em sintonia
tem nuvem no céu, amanhã será diferente
a noite não será tão ardente

O calor toma conta, escutar sua voz me desmonta
o sol hoje está fazendo parte da noite
ao mesmo tempo um frio que é um açoite
essa canção que sai dos teus lábios me faz esquecer

Todas as noites tem de ser assim
eu e você uma melodia sem fim
a lua acompanhando nós 
e o mendigo assobiando a nossa voz.

Passarinho

Janela está aberta, pode sair
vento forte atrapalha
mas pode sair, és livre
não tenha medo, pode voar

É um belo dia de sol
a maresia toma conta
a brisa vem a tona
tá na hora de partir

Passarinho preso na gaiola
não voa há um bom tempo
deve ser um tormento
agora é o momento

Não entendo, quer ficar aqui ?
o mundo te espera, pode ir
preguiça de ir caçar ?
alpiste aqui tem em todo lugar

Entendi o motivo de ficar na gaiola
não é preguiça nada, é o amor
pois do outro lado da varanda
tem a periquita da dona flor.

Deixa pra trás o que te faz ter ruins momentos

Enquanto a fúria

Te consome pensamentos

O teu amor, e a tua paz se esvai

Enquanto o vento

Te leva embora os sofrimentos

O meu amor, por ti se poem um gole a mais

Deixa a angústia

Te fazer ter a certeza

Que sou eu quem você não quer mais que se vai

Deixa o tempo

Te curar da avareza

Desse passado que te prende um pouco mais

Agora então se mostra a paz que eu te dei

De coração o amor meu, é teu meu bem

O meu passado eu já deixei bem lá pra atrás

Só quero agora nosso momento perspicaz

Águas Sombrias

Águas sombrias
gritos que arrepiam
fantasmas que assombram o local
são solitários por sinal

Lugar antigo
já se foram vários navios
corpos perdidos na água escura
não há ninguém a procura

Sereias já não tem a quem seduzir
piratas não navegam por ali
pescadores há inúmeros motivos pra desistir

Um mar de ilusão
seres tenebrosos vivem na solidão
se alimentam de paixão
olhos não enxergam em comunhão

Jangadeiro decide partir
pra ver se alguém volta a sorrir
acredita - se que há esperança
a natureza deixou essa herança

Fantasmas não assombram o velho moço
o convidam para um singelo almoço
sereias não enganam o senhor
mostram a verdade, só querem amor

Quando o habitante é a solidão
a cura é a comunicação
por mais que haja maldade
ninguém consegue ficar na saudade.

A torta da tarde

A cama já não me é mais refúgio

mesmo enquanto não se vai o infortúnio

antes achava que podia me abster 

dessa teima que só me deixa a temer.

O exaltado que exalou o teu cheiro

é hoje já o que se diz, maloqueiro

viu que ti, não era pra si

e fugiu, com o que tinha pra mim

e já que não posso correr atrás

fico então, com esse já fugaz

coração, que outrora

tomei daquele outro rapaz.

Contudo e portanto a caminhada é longa

e mesmo com as minhas pernas tortas

a minha torta da tarde ainda vai ficar pronta

e sem mais delongas, seu amor será porta

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