quarta-feira, 31 de agosto de 2016

eu não bebi

não bebi o suficiente pra dizer que te amo
nem sóbrio o bastante pra dizer que te esqueci
ao ponto que escrevo penso no teu pranto
e as noites que não dormi pensando em ti

cada riso que se mostrou em choro
dos nossos dias de namorados
aquilo nunca me foi decoro
foram os mais doídos aprendizados

minha vontade em ser agressor
mesmo que sem querer,
mas sem nenhum pudor

batia contra o conivente sentimento amor
que convivia em algum lugar
e eu não entendia sequer a cor

não te entendi o suficiente pra dizer,
que não me compreendi, o que era pertinente
já que nosso amor não se deu bem por mim,
mas tua dor fincou-se permanente

catei os cacos da nossa vodca de prazeres
e colei tudo, te prometo, nos meus dizeres
recito você, toda nossa prosa algumas vezes
pra qualquer estranho que me pergunte

quem foi teu amor por mais de meses
na ponta da língua quase digo
teu nome praticamente todas vezes

mas o que digo hoje é o seguinte
não dá pra negar o teu requinte
mas me amei por muitas vezes

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Toques e piques

Arranque sem dó a tampa do dedo
esconda-se dos piques atrás dos carros
cirande com as moças da rua
brigue com os pivetes igual a você

Insulte a mãe de quem o irritar
faça do seu pai a proteção
toque a campainha da vizinha
e sem pensar, meta o pé para a casa

Quebre o vidro das janelas
role de tantos doces comidos 
suje a roupa de lama, menino
não tema apanhar chegando ao lar

Viva na intensidade 
enquanto o cansaço não abraça
enquanto a tristeza não aquece
quando transformar-te em homem
verás que o tempo que foi não vem. 

domingo, 21 de agosto de 2016

Covê

como a tampa de uma coca-cola
ou de uma panela de pressão
se fazem os dias de conversas
pensamentos de salão

de festas a festas, se acumulam confusões
ilusões, complacências, diferentes sensações
reações, incompletas, aguçadas opiniões
perdões, vacilos, lactantes os jargões

like a man with a fork
in one wonderful planet of soup
was made to be fully of content
but he is just a fool

meio desolado com o próprio entendimento
que no ápice da razão é o seu maior questionamento
se é si mesmo ou se é bordão, repetido, revisado
velho, reusado, refogado, trabalhada multiplicação

afogado nos seus cabelos, peco com meu próprio zelo
minha mente cala meus dedos e os guiam sem destino
pelo teu corpo, pelo teu rosto, pelo teu semblante carinho
teu apelo, meu desespero não ser o lado do teu destino

me dá seu dedo, deixa que eu guio
pelo meu rosto, sente o suspiro
o que eu não falo, se é que eu sinto
quando te vejo, eu me animo

minha grande imaginação
me aprisiona e te desvio
toda minha espoliação
em te amar sem dar carinho


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Carta para Maria

Maria, entenda que é livre para buscar todas as coisas da terra
compreenda que pode se apaixonar por todos os corpos do mundo
entretanto, saiba que todos eles podem te decepcionar
beije quantos rapazes quiser
e se os lábios não lhe agradarem
experimente as bocas femininas como a tua
Maria, repito, és livre
faça o que convém
evite ir com as outras
cuide da alma e transforme-a em jardim
supere os momentos difíceis 
não esqueça de manter a indecisão que te faz Maria
compre os sapatos, abuse das maquiagens, rebole o quadril
se te fizer bem, faça mais
seja bipolar
resmungue, debata, discorde
seja o que permitem falar
no fim, sorria e agrade a si
saiba que os dizeres dos populares são errôneos
não apenas hoje
todos os dias são seus, Maria.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Eu minto

admito
assumo num grito
que assim como o vício das cordas
você ainda sinto

assíduo em te rejeitar
ávido em te querer
voa pra longe daqui

cansado de te protelar
pálido de não mais te ver
me dê um grão do seu rir

você foge ouvindo
o som das cordas tocando
sua canção já pronta
vumito


terça-feira, 2 de agosto de 2016

Sim

Fantasia é no altar te ver subir
com o véu cobrindo teu rosto fino
o mais belo pano branco a vestir
incrédula nos enfeites do destino

O sermão do padre antecede o beijo
um blá blá blá distante do fim
logo nós que no amor somos leigos
abriremos a boca somente para o sim

Os olhos gigantes enchem d'água
as mãos macias tremem sem cessar
nesse caminho despistamos as mágoas
e as pedras daremos um jeito de chutar

Estenda a mão e confia
uma aliança vai ao teu dedo
olhe em meus olhos, sorria
abraça-me, é o fim do medo.