quarta-feira, 26 de abril de 2023

A peça

Apesar de não ser sua cor favorita
tem o costume de tornar os dias mais amarelados

é que o sol nasce mais forte
o céu desfila seu típico azulado
o vento atravessa as ruas com mais imponência
o galo se anima e canta mais alto
o assovio dos pássaros atinge a última potência
a felicidade é figura presente
na redundância, sou mais contente
a cerveja é mais gelada
o tira gosto mais especial
o gol do meu time é mais comemorado
a risada, por um momento, é exarcebada
o abraço é o que cobre mais
o assunto mais interessante
a rotina menos estressante
o sono é mais leve, por vezes breve

o ponto inicial e onde as coisas se resumem
é a engrenagem ideal para o dia acontecer
ai de mim se essa peça se perder.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

A poesia diz adeus

Nem as manhãs de sol quente 
muito menos as noites fartas de estrelas 
ou tardes de um vermelho estridente 
sequer aquelas madrugadas as estribeiras

Sobre balanço do mar, ignora a beleza 
o teto da terra queimando em azul, não desperta o apetite 
nem mesmo o céu pálido estimula a tristeza
ou o verde do mato faz com que reflite 

Damas, rapazes, homens, mulheres, sem comoção 
altos, baixas, solitários ou casadas
negros, loiras, ruivos, morenas, insaciam a inspiração
das novas as mais velhas são dispensadas 

Dádivas de um amor correspondido
a melancolia de uma gorda saudade 
nem ao menos a alegria de um sorridente domingo 
ou abalos de um cotidiano covarde 

A própria boemia não o atiça
os maços não compõe as rimas
órfãos de um pai que as esqueceu
as boas, as más, as línguas decretam: O poeta morreu.

quinta-feira, 31 de março de 2022

Margarida

da para reparar pelo riso ligando as orelhas
no passo ralo e jeito faceiro
ao cantarolar feito os grandes musicais 
os banhos se iniciam e não terminam mais
no som da rádio que o desmancha

deu para perceber pela postura 
as noites já não são tão escuras 
os dias mergulhados em tons de azul
finalmente está nu 
pelado de alma, descrente de carmas 

como se vivesse em um feriado prolongado
uma promoção e aumentasse o salário 
das pequenas as maiores satisfações
e em sua volta, sobram deduções 

dizem pelos cantos que floresceu 
em seu jardim, desconfiam que brotou Margarida
branquinha, charmosa, bem-o-quis 
adubo natural, o faz feliz.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Pelos olhos delas

faz da vida um contínuo domingo de verão
dos mais enfeitados e transparentes, chegam a ter rostos
basta o fervor do céu e o frescor nas mãos
transita com pegadas de bamba
traduzido em som, seria um cadenciado samba
passada arrastada, sem forças para tirar os pés do chão 
serelepe, sereno e sem esforço
talvez preguiçoso
lembrara um conto do Rio antigo 
mulato andarilho pelo centro da cidade
está distante dos mais altos, mas também não cabe no bolso 
de papo mole com desvios delicados
empurrando para singelas armadilhas
retinto na cor, brilhara como as estrelas da noite que tanto se guia
e ali se via os saudosos malandros 
os mais novos o miravam, feito um espelho com arranhões imperceptíveis
simples como a mais básica adição 
e as pernas de saias aguardam pelo erro matemático
afim de qualquer dia, um mais um resultar em três 
quem sabe do encanto quebrar o vidro de vez 
mas são pelas suas retinas e bocas 
que a manha e malícia o dominam de vez.