sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Sinto que minhas palavras estão acabando.

Sinto que minhas palavras estão acabando. Como terminar uma garrafa de água, daquelas compradas na praça, se procurar legal paga um real e reclama que encheram ela na bica de casa. Tá acabando a água que mata minha sede. O vinho que elucida minha loucura, a cerveja que emana energia e remove juízo. Tem dias que, como muitos acreditam, como a terra, eu queria planar. Voar pelo universo e esquecer que a terra não é plana, o mundo gira e as coisas voltam, as consequências, escolhas e as palmilhas de sapato secando na varanda, vão se molhar de novo. Sinto que minhas palavras contemplam os danos, a mim, aos demais, a elas, a eles, a todes. Alegorando, alegoriando, alegrando de vez em quando, eu pelo menos, divirto quando me encanto. Enquanto escrevo, escuto bem baixinho do meu coração um canto. É como se eu fosse real, é como se fosse possível acreditar que a terra dá pra servir igual um pano, pra mesa aqui de casa, com a fruteira, os pães, as formiga e tudo mais. Poesia é legal de vez em quando e olha que maravilha, minhas palavras não estão acabando.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Eu, tu, nós

em ruas sem saídas, olhamos para trás e pensamos o porquê de entrarmos ali
as vezes, sinalizadas com placas, avisos, mas deixamos passar 
nós somos assim, seguimos até olhar para trás e voltar
temos nossos vícios e redundâncias, estamos cientes 
despertam o ócio, estamos doentes
debatemos o divórcio, somos pacientes
somos cães e gatos, gatos e ratos, e ratos mais uma vez
somos cães correndo atrás do próprio rabo
somos exímios trapaceiros de vida própria 
predador e presa, no fim, apenas presas
presas um do outro e sabíamos desde o início, haviam placas e avisos 
somos grandes temporais, e quando vemos, nos tornamos atemporais a frente de nós mesmos 
é por nós, a sós
somos nós dados em madeiras, difícil desamarrar 
mas calma, tudo no seu tempo 
podemos bem nos dar
somos finais de semanas agitados e segundas maçantes 
tal hora encorporamos verões nostálgicos, em outras, noites broxantes 
somos amantes 
somos o erro em que o outro atua
somos teimosos
e sempre entramos na mesma rua.