terça-feira, 21 de maio de 2019

Hábito

Segunda, dia do samba mais salgado da cidade 
no fundo do pensamento, ouço serenamente o pandeiro
as pernas bambeiam e revelam ansiedade
batizado em gafieiras, torno isso corriqueiro

Minha preta, em domicílio, questiona por mim 
eu, com a loira no copo, disperso de atenção 
ambiente me faz antagonista do fim
o retorno à casa é guiado pelo coração 

Felicidade prolifera a cada corpo presente
alguns sem a alma, esvaída ao suor diário
estão espairecendo o peso do batente 
e dissipando seus futuros salários 

Ao pedir a conta, cansaço se manifesta
durante a semana sobrarão resquícios
o lar, a patroa, as crianças, são motivos de festa 
entre vícios de maços e litros, falsifico sorrisos.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Desbotado

No jardim que cultivou 
as mudas gritam de saudade 
a casa, depressiva, clama o resgate 
junto ao espelho, reflito a dignidade

Os pensamentos fogem à lucidez
orgulhoso, prometi a ti o bem estar 
faltou sensatez, sobra lamentar

Vazios, os cômodos buscam entrosamento
teto e chão discutem madrugada a fora 
os móveis não obedecem cem porcento
o relógio cansou de marcar as horas
volta

Em certas despedidas, apenas os corpos se vão 
teus costumes assombram as paredes
pintadas das cores que escolheu
egoísta, sem a maldade, não percebeu
o magro colorido presente, é teu.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Curto

Era pura, branca 
pele camuflada por rabiscos
era linda, soberana
bela, mesmo em mundos invertidos

Sorriso tímido, branco 
qual afrouxava o meu riso 
jeito mais que manso 
sensação de paraíso 

Cachos curtos, formados 
enrolavam meu juízo 
traços para lá de enfeitados 
atormentavam o meu respiro 

De lábia boa e lábio bom 
colocou o doce na boca da criança 
o encanto da criatura é dom 
dos mais bonitos que vagam a lembrança.