sábado, 27 de março de 2021

A lua tá me seguindo!

Pra onde eu vou ela vai. Ela compete com o sol, consigo vê-la de dia. Eu gosto da companhia dela, ela não tá me seguindo, na verdade, sou eu quem tô seguindo ela. Procurando os lugares mais escuros pra sentir cada vez mais o brilho dela. Eu amo o brilho da lua, desde a lua nova até a lua preenchida. Eu amo quem me ensinou a amar a lua. E a Lua não me deixa esquecer disso, ela energiza o que resta de sentir em mim, e como sempre faço, tento esticar o máximo que consigo o sentir, pra que logo passe, e eu volte pro lugar obscuro que pertenço. A fadiga de amar é linda e traz bom senso. Eu só nunca me senti legítimo pra sentir isso por tanto tempo. Eu nunca quis me despedir de verdade das pessoas que amei, queria que estivessem comigo a todo momento. Não cabe a ninguém a tarefa de me punir pelo consentimento. Pelos erros seguidos que decidiram caber em mim, o pior homem de todos os tempos. A lua tá me seguindo, ela me diz por dentro, pra olhar pra cada estrela ao seu lado e lembrar que as mortas brilham apesar do tempo. Eu queria me despedir sem tantos lamentos, sem deixar tantas feridas e como um vírus, matar por dentro quem me hospeda e morrer com o tempo. Talvez eu busque a solução menos convidativa pra quem sabe reparar os danos provocados pela falta do dengo. E por ter visto a lua, sinto que já tive a melhor vida de todos os tempos. Aquele abraço.

domingo, 21 de março de 2021

O medo da mediocridade

Estar entre também é estar

O tempo do meio entre um encontro e o outro

Também é tempo


A cada lágrima, é como se algo estivesse saindo de mim

Pra evaporar e virar parte do universo

Parte do meio, virar história


Eu faço parte do meio

Mas ainda sim me doi tanto sentir você fora de mim

Sem os compromissos que garantiam a nossa formalidade


Eu tenho muito medo da mediocridade

De sentir saudade, de dizer faz parte

De sentir amor, de me sentir amado

De mentir que era verdade, quando você me perguntou aquele dia

Se eu sentia falta você de tarde



terça-feira, 9 de março de 2021

Algumas pausas duram pra sempre

Entre o dia e a noite existe tudo

Entre os tempos e os espaços dos dentes

Entre mais uma vez pela mesma porta

Saia por outra e seja a mesma


Somos as histórias que contam de nós

Daquelas que lembram de mim

Do amor que não dei

Os espaços esquecidos dentro do fim

 

Sem tempo para intervalos 

Sempre pedindo que pausem

Sem olho pro que sinto

E pedindo que me abracem

 

Sem gosto pro que beijo

Com desejo pelo resgate

Das caras coladas e dos peitos deitados

Das brandas risadas e os dias escassos

 

A falta de algo nem sempre é vazio

As facas do ego capaz de ser ninho

Os murros em pontas delatam

O que não quero quero é ficar sozinho

quarta-feira, 3 de março de 2021

Ponteiros e ampulhetas

Ponteiros acima do peso se arrastam para correr 
reféns de relógios, sejam de pulsos ou de paredes
somos naturalmente impacientes 
prematuros por vezes desde berço 
afobados por respostas 
ansiosos por resultados 

não somos analgésicos para angústias
muito menos lenços secos em aflições próprias
submissos de convicções confusas
de uma cabeça atônita 

dizem sobre paciência
de correr sem saber andar 
ouço de carroças na frente dos bois
de ter calma e mirar o depois
somos nossos pacientes
e não temos a receita

diferente dos ponteiros, batimentos seguem depressa
pensamentos frágeis flutuam pela mente
tropeçando em ampulhetas, aguardamos sentenças
de um menino, tempo, que brinca com gente.