quinta-feira, 16 de julho de 2020

Cada canto

lendas da Amazônia a configuram
te afirmo, o corpo é um mapa nacional
com rotas sobrepostas entrelinhas

luzes das mais insinuantes a envolvem
cega como fortes faróis em meio a um breu absoluto
lembrara o brilho das noites paulistas
pisa leve e jeito manhoso
a baiana na essência, desfaço o rumo
nos lençóis, quiçá maranhenses, cobri
não que estivesse frio, mas nem esquentei
quente feito o Rio logo vi
esse balanço na cintura, suspeitei
é da gema, sucumbi
e a divindade de Natal, era ela
mesmo nascendo em fevereiro

planejada e desenhada tão bem como a capital
esbanja a prepotência do sul
e no fundo não está errada
pobre português, mal sabe que a terra descoberta
já estava para alguém destinada.

domingo, 5 de julho de 2020

Máscaras azuis na pele preta

Antes do primeiro gole
Que seja dado a mim o primeiro golpe
Exausto, como a explicação que dava pelos fatos
Ex, estamos todos cansados

Do primeiro ao segundo gole
Pra descer do imaginário, a coragem, pra assumir
Render-se, de uma vez aos fatos
Expulsei todos meus invisíveis mercados

O terceiro gole pra revender
As mentiras que navegavam pelo meu barco
Foda isso, de não lembrar das coisas que falo
Melhor parar com a bebida, escurecer-me alguns dados

As pessoas bebem porque querem esquecer
Disseram-me, eu bebo porque quero ter coragem
De viver, de mentir pra mim e de sentir muito
Pois apático, como ombros tensionados, não entendi

Não me foi apresentado, as emoções e os sentir aptos
Isso não é da sua conta, e dessa conta eu mermo pago
É que depois do quarto gole, minhas palavras cabem num frasco
Depois do quinto copo, minha garganta é um fosso raso

Canalha, pois ora um vil palhaço
Entre tantos cantos deste mundo,
Vim parar justo do teu lado
Descaso

A nossa pele além de diferente é um campo minado
Se falhei em tantos modos, em quantos jeitos
Não fui falhado?
Que isso não tome cordas como cadarços

Espaços e tempos, escassos e tensos
Densos, como água em óleo, um sempre sobe
O outro, fica com o que sobrou de espaço